quinta-feira, 22 de maio de 2008

Você quer ser macaco novamente?

Opinião. Ponto de vista. Senso crítico. Convicção de seus ideais. Em tempos distantes, pessoas detentoras dessas “virtudes” se destacariam na sociedade, seriam líderes de grupos, seriam elevadas a cobiçados cargos nas empresas, participariam ativamente dos destinos de sua comunidade, nação, aquele papo furado todo. Enfim, seriam os super-heróis. Mas também li em algum lugar que os formadores de opinião não gostam de quem tem opinião formada. Ou seja, o barco a vela que veleja sem rumo não gosta muito do vento leste. Então, os convictos viraram os cabeça-dura. Quem antes era invejado agora é esnobado. Essa tribo - a do barco que vai aonde o vento levar – está crescendo assustadoramente. De repente, ter ponto de vista definido exclui você de seu círculo de amizades. Claro que os semelhantes se agrupam, mas numa sociedade onde se participa de vários grupos com interesses variados, em algum ponto do mecanismo vai acontecer uma pane. Pra clarear mais essa viagem toda, tomemos o exemplo da música. O rumo que a música vem tomando de uma década pra cá é, ao meu ver, assustador. Qualidade, sempre foi e sempre será, o diferencial pra tudo na vida. Tudo o que fazemos tem que ter qualidade – uma janta pros amigos, uma limpeza no carro, uma obra, uma música – e percebo que a qualidade é um dos últimos itens de um provável chek-list que norteie uma composição ou um trabalho musical. Nessa lista, valoriza-se muito mais o aspecto visual de quem faz ou executa a música, a questão da música ser praticamente monossilábica, ter no máximo 3 acordes repetidos à exaustão, falar de futilidades...Tenho visto muitas reportagens em que os cientistas tentam compreender a linguagem dos macacos, e começo a achar que o mercado tenha visto aí o futuro da música: música para macacos. Num canal de música veiculado na tv, 90% do que toca é música para primatas. Comercialmente, um sucesso! É aí que entra a falta de senso crítico. Afinal, quem não quer virar macaco tem que começar a analisar melhor essa diarréia musical (e cultural) a que estamos sendo humilhantemente submetidos. Os imbecis tentam vender suas porcarias. Os mais imbecis e candidatos a macacos compram. Mas os mais lúcidos têm que dar um basta nisso. É preciso boicotar a porcaria. É preciso exigir qualidade no que se vê, no que se ouve, no que se absorve. Não dá pra voltar a ser macaco, ou eu começarei a achar que Darwin foi um mentiroso.